É com profundo pesar e tristeza que nos despedimos do querido professor e amigo Gil Mendo (1946—2022).
Membro honorário da REDE, é-nos impossível imaginar o presente da dança contemporânea em Portugal sem a sua agência sensível, comprometida e apaixonada.
Um dos poucos fomentadores da disciplina da Coreologia em Portugal, começou a dar aulas no Conservatório Nacional em 1975, defendendo que “o estudo de uma notação (uma escrita) é um contributo importante para a criação de hábitos de organização, visualização, concepção e memorização do movimento.”
Fez parte da Comissão Instaladora da Escola Superior de Dança, e foi aí professor até à sua reforma. Acompanhou de forma atenta o surgimento de um movimento de dança independente em Portugal, cuidou e fomentou o seu estabelecimento. Em 1990, solidarizou-se com Madalena Victorino e António Pinto Ribeiro, expulsos da Escola Superior de Dança por defenderem metodologias de ensino experimentais, e foi um dos co-fundadores do Fórum Dança, uma estrutura essencial para a profissionalização da dança contemporânea em total sintonia com a cena da Nova Dança Portuguesa. Gil Mendo dizia que o que definia a Nova Dança Portuguesa era “um corpo que não era definido por linguagens estreitas”. Entre 1990 e 1991 foi consultor para a Dança do Comissariado Europália 91, que acabaria por representar o momento de projecção da Nova Dança Portuguesa na Europa e no mundo e um ponto de não retorno para a dança em Portugal.
Desde então foi um importante articulador entre política cultural e a comunidade artística contemporânea. Foi consultor para a Dança no Centro Cultural de Belém de 1993 a 1995. Pertenceu à Comissão Instaladora do Instituto Português das Artes do Espectáculo, Ministério da Cultura, entre 1996 e 1998, e de 1998 a 2001 foi Coordenador do seu Departamento de Dança. Foi programador de Dança da Culturgest, em Lisboa, durante mais de uma década, entre 2004 e 2017. Como programador investiu tudo num enorme respeito pelos artistas e pelas obras, confiante no poder basilar da dança e da arte como transformadoras na sociedade, através da experiência, do assombro, da dissidência.
Gil Mendo era um profundo conhecedor dos processos da dança contemporânea. Desde a formação de bailarinos aos processos de trabalho que envolvem a criação de uma peça, aos modos e modelos de financiamento, às redes de cooperação internacional e ao contacto com os públicos. Era um agente sensível, criador de pontes e diálogos, agregador de comunidade. Era uma pessoa cuja vivência quotidiana marcava um espírito ético exemplar. O seu desaparecimento é para toda a comunidade da dança e artes performativas, em Portugal e na Europa, uma perda inestimável. Caberá a esta comunidade estar ao nível do seu legado e continuá-lo. Com eterno reconhecimento, um grande obrigado Gil!
A direcção da REDE